Guilherme Paixão*

or muito tempo, comida saudável foi sinônimo de dieta restrita ou consumo quase exclusivo de quem frequenta academia. Hoje, o cenário é diferente: as chamadas marmitas fitness ganharam espaço na rotina de brasileiros com perfis variados — de jovens atletas a idosos que buscam mais saúde, ando por profissionais com agendas cheias e pais em busca de praticidade.

Esse novo hábito reflete uma mudança no comportamento do consumidor e impulsiona o crescimento de um nicho promissor dentro do setor de alimentação. Segundo a International Health, Racquet & Sportsclub Association (IHRSA), o Brasil é o segundo país com mais academias no mundo, atrás apenas dos Estados Unidos. Mas o fenômeno vai além das salas de musculação.

Uma pesquisa da Athletic revelou que quase metade dos brasileiros (48%) ou a se exercitar com mais frequência após a pandemia. A combinação entre esse novo estilo de vida, o aumento da conscientização sobre saúde e a necessidade de refeições práticas abriu espaço para empreendimentos voltados à alimentação saudável e personalizada.

Do frango grelhado à pizza sem glúten: o cardápio se reinventa

Quem vive essa realidade na prática é a chef e empreendedora Vanessa Gilbert, fundadora do Mundo Fitness Gourmet, em Ribeirão Preto (SP). O restaurante surgiu com foco em refeições leves e nutritivas, mas logo percebeu que o público queria mais: “Hoje, o nosso diferencial é oferecer marmitas personalizadas conforme a dieta que o cliente recebe do nutricionista. Isso traz comodidade e ajuda a manter a disciplina”, explica.

Com um público majoritariamente feminino e preocupado com a saúde, Vanessa conta que a adaptação do cardápio também segue o ritmo da semana e das estações. “Segunda-feira é o nosso dia de maior faturamento. Já na sexta, incluímos uma versão fitness da parmegiana para atender quem quer um mimo sem sair da linha”, diz. No inverno, entram no cardápio massas integrais, nhoques e até pizzas sem glúten — todas pensadas para manter o apelo saudável.

Mais do que fitness: um hábito que conquista diferentes idades

Em Aracaju (SE), a comerciante Aryane Pereira, de 59 anos, também aderiu às marmitas fitness — e não por causa de academia. “A verdade é que não gosto muito de cozinhar. E como preciso me cuidar, comer uma refeição equilibrada sem ter trabalho virou a solução perfeita. Peço duas ou três vezes por semana”, conta. No caso dela, a praticidade pesa tanto quanto a segurança de estar consumindo um produto confiável.

Esse perfil de cliente tem se tornado cada vez mais comum, o que mostra que o setor deixou de ser apenas uma tendência para se firmar como um novo padrão de consumo. Se antes era visto como produto de nicho, hoje o segmento de marmitas saudáveis se expande para casas, escritórios e escolas, atendendo quem busca qualidade, sabor e equilíbrio nutricional — sem abrir mão da conveniência.

Oportunidade para bares e restaurantes se reinventarem

De acordo com a Abrasel (Associação Brasileira de Bares e Restaurantes), 33% dos empresários do setor enfrentam dívidas em atraso. Neste contexto, as marmitas fitness aparecem como uma oportunidade real de diversificação e aumento de receita. Minas Gerais, com sua rica tradição gastronômica e cidades atentas à inovação, como Belo Horizonte, Uberlândia e Juiz de Fora, também têm visto o surgimento de marmitarias saudáveis como solução viável e rentável.

O que antes era tendência, hoje é estratégia. E tudo indica que o prato do dia – leve, saudável e pronto para aquecer – continuará ganhando espaço nas mesas dos brasileiros.

*Jornalista – Abrasel